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O porquê dos nossos sentimentos: por que existem emoções e sentimentos negativos?

Resumo. Sentimentos e emoções serviram a nossa sobrevivência como espécies pois, como exemplo, o amor, o afeto e o carinho entre pais e filhotes foram e são uma ligação das mais importantes do reino animal, até que os pequenos animais adquiram maturidade para uma vida independente. Mas, e os sentimentos e as emoções negativas? Como estamos vivos hoje se antes da nossa espécie já havia ancestrais com poderosíssimas forças negativas em suas mentes? O que aconteceu e o que acontece? Estariam e estão na contramão da evolução?  Neste artigo eu discorro sobre dois deles, aparentemente desastrosos para quaisquer espécies, e dos mais comuns e intensos, o ódio e a raiva, e mais ao que eles poderão levar, à agressividade, possuindo sim um papel indispensável na evolução se analisados com o cuidado que merecem. A partir do desenvolvimento do sistema nervoso, do mais primitivo ao mais capacitado e complexo, o cérebro humano, mostro foram fundamentais na preservação das espécies de muitos seres vivos. 
Palavras-chave: neurociência, emoção, sentimento, evolução, ódio, raiva, agressividade 
Introdução. Nos meus artigos “A base material dos sentimentos”, “A base material dos sentimentos - II”, “O porquê dos nossos sentimentos” e “O porquê dos nossos sentimentos - II” (Cérebro & Mente, 2001-2002), (Sistemas, teoria da evolução e neurociências, 2008), eu escrevi sobre os sentimentos positivos como imprescindíveis na perpetuação dos seres humanos no planeta e reconheço a necessidade de se escrever sobre os sentimentos negativos pois também são reais, existem conosco e outros animais desde há muito tempo, e, por incrível que pareça, tiveram suas importâncias na evolução. 
Agressividade 
Para começar voltarei no tempo justamente na época do próprio surgimento e desenvolvimento ulterior da vida. 
Imagine um cenário muito antigo, em um lago ou oceano, quando dos primeiros seres vivos unicelulares desprovidos de núcleos, com uma substância, uma fonte de calor, etc., ameaçando um grupo desses pequenos seres já providos de movimentos próprios. Alguns deles não só conseguiam perceber o perigo como também reagiam se movendo em direção e sentido opostos ao local dessas ameaças. Os outros simplesmente seriam destruídos por esses fenômenos tão comuns na natureza. 
Percebe-se por aqueles sobreviventes, dois fatores cruciais em suas reações: a percepção da ameaça e todo um sistema a colocar-lhes em movimento já que muitas de suas partes como organelas, cromossomos, substâncias químicas diversas em seus interiores, etc., foram levadas em conjunto com suas membranas a um local seguro porque não possuem movimentos próprios. 
O movimento desses heróis microscópicos reflete uma pequena dose de agressividade perante ao meio ambiente, uma não passividade frente ao perigo, um pequeno mas verdadeiro embrião de um sistema nervoso a serviço de suas sobrevivências. 
Na alimentação por fagocitose, os pseudópodes da célula agressora englobam o material a ser ingerido. É um processo ativo, demonstrando de forma mais clara esse embrião de sistema nervoso pois há intenção, ataque e captura de uma “presa”, a saber, um simples corpo sólido ou outro ser vivo mas indispensável à vida de quem o realiza. Imagine então um predador, um organismo multicelular, onde sua presa percebe a sua presença e tende a se afastar ou a se defender.  
Um processo desses preservado, aperfeiçoado, por genes, chegou até nós e o fazemos com requintes de crueldade para saborearmos uma boa porção de carne. Veja que bilhões de anos, inúmeras quantidades de predadores, presas, habitats e comportamentos que existiram e existem, levam a marca implacável da agressividade como denominador comum na sobrevivência das espécies. 
Mas a agressividade se revela de maneira diversa em seres vivos complexos não só com respeito à captura de presas, em ataques dos mais variados modos, etc. Dizendo do   comportamento humano, você, ao colocar toda a sua motivação para terminar um trabalho atrasado, podendo até lhe causar a perda do emprego, estará descarregando uma grande dose de agressividade. Uma repreensão verbal a um filho de forma enérgica pois ele acabara de fazer algo errado também é uma agressão só que de maneira consciente, respeitosa, ensinando-o diferenciar o certo do errado. 
E a agressividade entre pessoas levando à morte ou a danos físicos? Isso sempre existiu e realmente, em sua maioria, é contra a evolução. Só que, simplificando, todas as pessoas não ficam todos os dias se agredindo! Aqui, neste ponto do artigo, deve-se ter cuidado com ideias e colocações pois realmente o ser humano sempre viveu em conflitos e guerras, mas hoje somos mais de sete bilhões habitando a Terra. Outros valores e sentimentos predominaram.  
Raiva 
Uma emoção poderosa, causada por muitos fatores como não atingir um objetivo ou necessidade, ter uma contrariedade, não satisfazer um desejo ou ter uma ação frustrada, sentirmos nossos direitos desrespeitados, nos depararmos com injustiças, críticas, ofensas etc. Nosso dia a dia também acarreta estados de raiva: uma fila demorada, uma piada de mau gosto, um aceno indesejado de alguém no trânsito, etc.  
Apesar de ser uma emoção destrutiva eu pergunto: quem gostaria de passar raiva durante 24 horas? Temos defesas para afastarmos estados de raiva, principalmente a racionalização, onde a nossa razão possa determinar se compensa ou não uma explosão de raiva. Mas, como a agressividade, ela existe…  
A mesma questão como na agressividade: ela estaria na contramão da evolução? A resposta é não. Ela aumenta a energia e a força para um animal abater uma presa que reage com eficiência a um ataque. Um complemento, uma ajuda na agressividade. E como na repreensão verbal a um filho citado em “agressividade”, você poderá estar com raiva dele, mas a canaliza para o bem-estar da criança. 
Se no modo de vida moderno nós não precisamos abater diretamente um animal como faziam os antigos caçadores-coletores, temos muitos estímulos levando-nos à raiva só que aprendemos a, pelo menos, não a deixá-la, alterar de modo significativo o nosso bem-estar psicológico e dos outros. Uma luta diária. E ainda em sociedade extravasamos nossa raiva em movimentos como direitos humanos, preconceitos, injustiças sociais, etc., ou seja, tudo do sistema que achamos errado.  
Ódio 
De uma aversão instintiva, um rancor duradouro até uma profunda inimizade, o ódio também parece se localizar na contramão da evolução. Então por que o temos?  
Exemplos de nossos ancestrais em suas vidas primitivas em tecnologia permite que tenhamos uma boa pista para esse aparente paradoxo. Um predador passa próximo a um grupo de humanos e se afasta. Não atacou ninguém, mas todos sabem que voltará. E quando aparece desperta ódio, talvez já presente em muitos da tribo, levando aquelas pessoas a um ataque possivelmente já combinado entre os mais destemidos do grupo.  
O ódio a um inimigo ou a quem ou o que represente uma ameaça, poderá deixar uma mãe prestando mais atenção em possíveis perturbações a seus filhotes, ou seja, ele proporcionaria uma série de comportamentos que não apareceriam sem ele na defesa da prole e de si mesma.  
Gosto de raciocinar de uma forma, na falta de um termo designativo, original (?), que seria “o pensar ao contrário”: se o ódio, a raiva e a agressão não existissem, quanto não ficaríamos vulneráveis sem eles? Seria possível um ser vivo tão complexo como nós, mas tão puro, ingênuo e passivo?   
Acreditar que só o amor, só os sentimentos positivos pudessem existir, me parece uma grande ingenuidade. O amor tem como oposto a indiferença, mas e o não gostar de algo? Me parece que faz parte da nossa sobrevivência o não gostar de muita coisa chegando realmente ao ódio àquilo que nos fazem mal, principalmente situações perigosas, que são muitas. 
No plano social o ódio pode aparecer entre pessoas que não se gostam ou é o resultado de desavenças, mas, como a raiva, há um certo controle por parte do ser humano para que muitas diferenças não os levem a conflitos desastrosos. Aprendemos a nos controlar, racionalizar como na raiva, percebendo se compensa ou não uma discussão ou uma agressão devido a um sentimento profundo como esse.    
Os seres vivos sempre estiveram em um mundo repleto de estímulos positivos e negativos! Do primeiro exemplo que dei sobre um unicelular fugindo de uma fonte de calor, denotando uma reação a um estímulo negativo, até uma mãe não gostando nada de um inimigo ou ameaça a sua prole, algum animal considerado perigosa para ela, me parece que a agressividade, acompanhada por raiva, ódio, etc., se perpetuaram como comportamentos de geração a geração, principalmente em animais. Não dá para conceber um planeta como o nosso onde sobreviveriam apenas indivíduos com reações benéficas com o ambiente. E veja que no exemplo da mãe seja necessário um sistema nervoso complexo, evoluído de muitas e muitas gerações como são os dos mamíferos. 
Seja lá como eram os primeiros unicelulares em estrutura e comportamento, eles estavam adaptados e procriaram dentro de ambientes com estímulos positivos e negativos reagindo de forma adequada a cada um deles. Conforme o sistema nervoso foi evoluindo, regiões e/ou funções diversas responsáveis pela agressão, raiva e o ódio, foram se perpetuando nos organismos multicelulares.

Referências: 
A base material dos sentimentos. Argos (de) Arruda Pinto. Disponível em:  
http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/sentimentos.html . Acesso em: 27/02/2018. 
A base material dos sentimentos - 02. Argos (de) Arruda Pinto. Disponível em:  
O Porquê dos nossos sentimentos. Argos (de) Arruda Pinto. Disponível em: 
O Porquê dos nossos Sentimentos - 02. Argos (de) Arruda Pinto. Disponível em:  


Blog: Sistemas, teoria da evolução e neurociências. Disponível em: https://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com >. Acesso em: 04/10/2016.

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